quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Valorização e revitalização do Largo da Batata

A prefeitura da cidade de São Paulo em parceria com o Metrô propõe a valorização do Largo de Pinheiros, local mais conhecido como Largo da Batata. Esta valorização do espaço, segundo a prefeitura, busca “atrair de novo a população para usufruir de uma área tradicional, que nos últimos anos sofreu degradação”.
A proposta de revitalização gera uma série de perguntas: as pessoas que passam por lá todos os dias, não exercem o papel da “população”? Os proprietários de imóveis ou de comércios no local são culpados ou apenas vítimas desta degradação do espaço? Será que a “valorização” tem o aval dos proprietários, das pessoas que usufruem do espaço e principalmente daqueles que retiram seu sustento das mediações locais?
O Largo de Pinheiros já foi um importante centro de distribuição de produtos. O nome originou-se de um antigo galpão de batatas que era freqüentado por pessoas que vinham de longe e não moravam ali.
A historicidade do local contrapõe a idéia principal da revitalização, que, de acordo com os órgãos, deve ser atrair a população desta tradicional área. Se pensarmos assim, veremos que a população da área não foi alterada. Os trabalhadores, vendedores e viajantes continuam ocupando a região. Assim, o espaço manteve sua identidade. “Sempre foi um lugar de consumo e consumo de lugar.” (LEFEBVRE)
O Largo da Batata de hoje expõe a cultura de quem o habita de fato, “a ponto de interferir na interpretação da organização espacial humana como um produto social, passo primeiro e fundamental para se reconhecer a dialética sócio-espacial”(SOJA). Seus habitantes são camelôs,os donos de lojas populares e de produtos das mais diversas regiões do país, além das tradicionais barracas de comidas típicas em frente aos muitos pontos de ônibus.
Mas não se pode entender revitalização como algo único, a serviço da sociedade. Tem que se pensar também em um sentido mais amplo, capitalista. É é neste cenário que se soma a palavra valorização.
Valorização tem como significado o aumento do valor ou do preço de algo, em virtude de ter recebido aperfeiçoamento ou melhoria. Ou, segundo a prefeitura “uma região de convívio com potencial de investimentos imobiliários e empresariais”.
Esta valorização pode fazer com que a “realidade urbana perceptível, como ruas, praças, monumentos e espaços tradicionais para encontros, desapareçam” (LEFEBVRE). Os setores que ali se encontram não se encontrarão mais, determinando assim, o fim das relações hoje existentes.
Não há dúvidas que o local exige uma intervenção. A questão é como contemplar as diversas camadas da sociedade que vivem daquele espaço. Não se pode deixar de lado o “fator humano” em detrimento do “urbanismo dos promotores de vendas”. Não se deve intervir em um espaço sem conhecer o seu alcance, sua validez, seus limites e suas relações recíprocas. A integração sem a participação da sociedade não tem sentido, e sem ela, a desintegração continuará, sob a máscara e a nostalgia da integração.


BIBLIOGRAFIA

SOJA, E.W. Geografias Pós-Modernas – A reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

LEFEBVRE, H. O direito à cidade. Editora Moraes.

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