sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A eterna promessa

Os governantes brasileiros sempre adoraram enganar a população em relação ao combustível do futuro. Parecia que, até ano passado, o ciclo de anúncios energéticos mirabolantes havia acabado e que, realmente, o etanol, algo genuinamente tupiniquim, seria o grande investimento do país.
Depois de décadas importando o petróleo - anos 50 – inventamos o bendito etanol. Durante a década de 70, início dos anos 80, planos como o pró-álcool alavancaram a indústria automobilística. O preço do combustível era baixo, a sensação de economia era tamanha e o sonho de ter um país livre do “ouro negro” era real. Ou, pelo menos, quase.
Mas, em se tratando de Brasil, não demorou muito para vermos que todo papo de independência energética era falso. O preço do petróleo baixou e com isso o uso da gasolina passou a ser mais vantajoso que o do combustível “made in Brazil”. “O consumo específico dos veículos também baixou” (pag. 27, Martin, Jean-Marie) e nós, que não somos bobos, abrimos nosso país para carros importados, todos movidos pelo combustível fóssil. Resultado: abandono do álcool para voltar à gasolina.
Não contentes em reutilizar fortemente a gasolina, passamos a investir em outra energia do futuro: o gás natural (derivado do petróleo). Começamos a importar a nova fonte. Contratos milionários foram feitos, dutos foram construídos e postos passaram a contar com uma bomba de gás. Carros eram convertidos nas esquinas e todos adoravam rodar centenas de quilômetros gastando pouco.
Porém, mais uma vez o cidadão foi traído. O preço subiu, os acordos internacionais, mal feitos, foram repassados para a população e o ciclo do gás natural definhou. Poucos carros rodam atualmente com esta fonte, e as indústrias, que foram obrigadas através de incentivos fiscais a mudarem toda a sua estrutura, pagam o preço pela falta de planejamento. Enterrada mais uma salvação, a gasolina ganhou novamente o status de “eterna” e voltou a figurar entre as ruas brasileiras.
O início de 2000 contou com o ressurgimento do álcool. Considerado por Ignacy Sachs como um passo à frente, os carros flex não impunham, aparentemente, o combustível ideal. Movidos a gasolina e a álcool, a nova tecnologia passou a dominar o mercado. Com a grande produção de cana de açúcar, a idéia da economia voltou a dominar os compradores. Mas esta maravilha moderna não foi tão econômica. Um bi-combustível chegou a custar cinco mil reais a mais que o mono. Resultado: a diferença era tão grande que, para recuperar o valor gasto no carro, o consumidor teria que rodar muito gastando pouco.
O investimento em veículos Flex veio a calhar. A preocupação com o aquecimento global fez o brasileiro se orgulhar de ter uma alternativa energética. Não só o preço nas bombas era satisfatório. O eco-marketing criado também impulsionou a venda dos modelos nacionais.
O problema é que o governo não conseguirá manter o mercado aquecido. Enquanto os EUA planejam uma produção de 137,25 bilhões de litros de etanol em 2017, o Brasil estima chegar a 63, 9 bilhões de litros no mesmo ano (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA – EPE). Esta discrepância nos investimentos mostra qual país poderá substituir significativamente o uso dos combustíveis fósseis no futuro.
Alheio a isso, neste ano, 2009, o governo brasileiro anunciou uma nova descoberta de petróleo. Para Lula, esta será a grande salvação do país. Mais uma vez as plantações de cana, milho e mamonas serão esquecidas. As energias “renováveis que constituem a biomassa, a energia natural dos ventos, das marés e dos rios, a geotermia e, principalmente, a iluminação solar” serão mais uma vez postas para escanteio. Como na década de 50, o combustível do futuro é o petróleo.
Hoje o Brasil possui tecnologia para perfurar poços submarinos a 5 km de profundidade. Quando há um problema com o equipamento, o tempo necessário para a solução pode chegar a três meses. São três meses sem produção. Quanto tempo demorará para arrumar algo há 11 quilômetros de profundidade, nas bacias de pré-sal? Qual será o custo desta exploração? Nada disso foi dito.
O Brasil já foi o país do futuro nas décadas de 70, 80, 90 e 2000. Parece que não aprendeu com o passado. Em 2009, mais um passo para trás. Enquanto todos buscam alternativas energéticas, nós buscamos petróleo. Começaremos, em breve, muito em breve, a importar cana de açúcar e etanol.
Por: Fernando carvalho Petroni
Bibliografia:
Sachs, Ignacy – A revolução energética do século XXI, 2006.
Martin, Jean-Marie, A economia mundial da energia
DORGADEM – Organização de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios - http://www.orgadem.org.br/noticias/1903200904.htm
EPE – Empresa de Pesquisa Energética - http://www.epe.gov.br/imprensa/PressReleases/20080924_1.pdf

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