quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A produção de leite no vale do paraíba

O trabalho de campo foi realizado na cidade de Guaratinguetá, situada no Vale do Paraíba, uma tradicional bacia leiteira e a primeira do Estado de São Paulo até o início da década de 80. A região, que passou um diversas dificuldades, voltou a figurar entre os importantes pólos produtores de leite, algo que motivou o trabalho de campo da disciplina Geografia Agrária Aplicada.
O ressurgimento econômico aconteceu após um grande processo de modernização, da utilização de insumos, maquinário e de políticas voltadas para o setor, como o Programa Nacional de Melhoria na Qualidade do Leite (PNMQL).
Com base neste novo cenário econômico, visitamos três sítios na cidade. O primeiro visitado se mostra em um estágio intermediário de desenvolvimento, faz parte de uma cooperativa, mas ainda tem a retirada do leite de maneira manual, sem muita tecnologia. O segundo já conta com uma grande infra-estrutura e é assessorado pela Danone, enquanto o terceiro não pertence a nenhuma cooperativa e está atrasado em relação à região.
O primeiro sítio visitado pertence à Cristina. Ela é dona de quase 60 vacas leiteiras. Ex - professora, abandonou a cidade para morar na propriedade onde sua irmã mora.
Em sua terra “morroada” produz 500 litros de leite por dia. Toda a produção é recolhida pelos oito caminhões da cooperativa da região, a Maringá - Serra do Mar.
O sucesso visto hoje demorou a chegar. Cristina contou que começou do 0. Nada sabia sobre leite. Sem experiência na área e com poucos profissionais qualificados na região, custou a aprender, tanto que plantava um capim não recomendado.
A guinada só aconteceu com a ajuda de um agrônomo, pertencente à cooperativa, substituiu o pasto por cana e profissionalizou os trabalhadores. Com o auxílio deste agrônomo, as vacas menos rentáveis, como as Girs, começaram a ser substituídas gradativamente por Holandesas e Jerseys.
Para a dona da terra, mesmo com a produção em um bom estágio, muito ainda tem de ser feito, mesmo porque, o lucro é praticamente irrisório. Em meses de boa tiragem o superávit não passa dos R$ 3 mil. Nos outros meses, todo o dinheiro arrecadado volta para a terra como benfeitorias.
O segundo sítio visitado foi o de Vagner, produtor que entrou no ramo de leite após suas plantações não darem certo.
No início, Vagner e seu sócio, no caso seu irmão, contavam com apenas 10 vacas leiteiras. Hoje possuem um trator, avaliado em R$ 11 mil, 50 animais, aproximadamente, e um tanque de armazenamento. A produção beira os 700 litros/dia e é comprada pela Danone.
O produtor é assessorado por um agrônomo da Danone. Segundo ele, esta ajuda melhorou a qualidade de seu pasto, do milho e da cana, resultando em um leite de melhor qualidade e com um maior valor agregado. A assessoria também o fez dominar as técnicas de inseminação artificial, abrindo a possibilidade de melhorar seu rebanho.
A retirada do leite também foi requalificada. Anteriormente era feita sem instrumentos adequados, pondo em risco à qualidade do leite e a saúde do animal. Hoje toda a ordenha é feita por máquinas, diminuindo o manuseio das tetas.
Endossando o coro de Cristina, Vagner também reclama que todo o dinheiro que recebe volta para a terra, não ficando com uma parte significativa em suas mãos.
O último sítio visitado estava fechado. O proprietário não estava. Mas mesmo assim foi possível ver que ainda estava engatinhando em relação aos demais. Sem contar com o apoio de nenhum agrônomo, as vacas não usufruem de um pasto adequado, deixando a qualidade do leite duvidosa e inviabilizando a compra do produto por cooperativas da região. Geralmente vende a produção para os vizinhos e está longe de viver do leite.
A ajuda, a informação e a modernização fizeram com que a região do Vale do Paraíba voltasse a figurar no cenário nacional. O grande problema é saber como as pessoas viveriam caso as cooperativas, e mesmo a Danone, não comprassem mais o leite. Como toda a produção é escoada por estes dois meios, o produtor fica de mãos atadas, sem alternativa na hora da venda. Até o agrônomo é cedido pelos compradores. Vagner, por exemplo, não tem um contrato assinado com a Danone. A empresa não é obrigada a comprar toda a sua produção. Assim, sobram perguntas: Como viveriam os produtores caso as empresas e cooperativas não comprassem mais o leite? O que eles fariam com o dinheiro investido? A realidade é animadora, basta ver agora o futuro deste modo de produção.

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